quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Manifestações diferentes, respostas diferentes

Como transformar os desempregados na solução do problema do País

Na sociedade, a parte mais débil são os desempregados.

O que se segue constitui uma proposta de acção a ser tomada por quem se encontra nesta situação.

Na minha opinião, quando mais de um milhão de pessoas é desempregado oficial, é desempregado não oficial porque desistiu de o ser, é precário ou inclusivamente trabalha mas é muito pobre, existe massa crítica para passar do plano das reivindicações para algo mais ofensivo. Quero com isto dizer, que em vez de reivindicar, devemos dizer, ou antes, devemos informar o que vamos fazer. Definido o que vamos fazer, o como o vamos executar dependerá do posicionamento que os restantes movimentos, partidos, sindicatos e governo tomarem.

O que fazer então?
A minha proposta é simples. Trata-se de ir buscar o dinheiro onde ele está: tributar ou aumentar tributo referente a mais valias bolsistas, movimentos de capital, lucros, propriedade de artigos de luxo, SGPSs, grandes empresas, propriedade imobiliária que somada por agregado familiar esteja acima de 150 mil euros. O argumento é o mesmo que está a ser usado para tantas outras coisas: encontramo-nos num momento de emergência nacional. O dinheiro arrecadado deverá ser usado em actividades produtivas no campo industrial, agrícola, pescas ou minas, para dessa forma se substituir importações e eventualmente aumentar as exportações. O dinheiro deve ser usado de forma a que não seja necessário mais investimento de capital para dessa forma não existir necessidade de pagar qualquer rentabilidade do capital investido (pois foi a fundo perdido), nem qualquer necessidade de contratação de empréstimos à banca, para que se consiga competir pelo preço. Os produtos serão mais baratos, precisamente porque a parte relativa ao capital se restringe a impostos e serviços necessários para o funcionamento da empresa. O preço será mais baixo, não pela mão de obra mais barata mas porque o custo do capital é muito mais baixo.

Desta forma, mais de um milhão de pessoas começa a trabalhar em actividades produtivas rentáveis sem que isso tenha implicado um aumento do défice, diminui-se as importações porque estas serão satisfeitas pela produção interna, o estado social torna-se sustentável porque os desempregados deixam de ser um peso e pelo contrário passam a ser uma fonte de receitas do estado. Resolve-se assim todos os grandes problemas do País, mas principalmente, acaba-se com a chaga do desemprego.

Na realidade, estou de acordo com PPC e por isso não devemos ser piegas e em vez de reivindicar o que está mal, devemos informar que, enquanto pessoas desempregadas, recusamos ficar na berma da estrada à espera da morte e em vez disso vamos alterar a realidade em que vivemos contribuindo dessa forma para a resolução dos problemas do País.

Há dias uma amiga recordou-me uma coisa que eu não tinha tomado consciência: vivi 7 anos na América Latina, e acompanhei com especial interesse o que aconteceu na Argentina antes, durante e depois do default. Lá quem resolveu o problema foram precisamente os desempregados (los piqueteros, usar o google para saber a história). Ora, em Portugal estamos numa situação semelhante.

Recordando os últimos 30 anos portugueses, em que:
  1. o estado se retirou primeiro dos sectores produtivos,
  2. o estado progressivamente está a sair das escolas e universidades, sector da saúde e sistemas de pensões,
  3. o estado, vende monopólios naturais a outros estados,
  4. gradualmente as grandes fortunas têm vindo a pagar cada vez menos impostos, e possibilitado que fujam para offshores para evitar serem taxadas, com a desculpa que assim teriam mais dinheiro para criar emprego,
verifica-se que os privados não ocupam o lugar deixado vago no sector produtivo e se limitam a importar o que outros fazem. Não sei se tal se deverá ao facto de não saberem, não querem ou não terem possibilidade de entrar no sector produtivo. Mas a resposta é irrelevante e é para mim incompreensível que não esteja em cima da mesa ser o estado a reocupar o lugar que ninguém ocupou nem ocupa. É necessário investimento e Portugal não detém o controlo da moeda mas mantém o controlo da fiscalidade. Mesmo que as regras europeias não possibilitem a entrada em sectores produtivos, poderá o estado manter-se nessa posição e simplesmente abrir concursos dedicados exclusivamente a trabalhadores para que eles formem empresas geridas pelos próprios em que o produto do trabalho terá a garantia de ser comprado em última instância pelo estado, de forma análoga às PPPs que têm o lucro garantido, com a diferença em que por um lado, o estado obterá em troca os produtos, que serão um activo, e por outro, ao contrário das PPPs, não se estará a garantir lucros de uma minoria. Da mesma forma que se mantém bancos falidos, porque não manter empresas produtivas que garantem a independência nacional e principalmente a vida dos seus cidadãos? Isto pode parecer uma heresia, mas ter-se-á uma certeza: a empresa não será deslocalizada porque os trabalhadores não querem ficar sem o seu posto de trabalho e também não permitirão que uma minoria deles ganhe muito mais do que os restantes, trazendo assim a democracia para o local de trabalho. É só poupança, porque todos querem manter a empresa a funcionar.

Claro que para minimizar os cortes ao capital, poder-se-á usar o que ainda não foi gasto no QREN e os 12 mil milhões reservados para os bancos. De qualquer forma, é bom recordar que o capital é o que sobra depois de quem o poupa ter garantido a sua subsistência, enquanto o salário dos trabalhadores é aquilo que se paga para que estes continuem nessa condição.

Trata-se simplesmente de transformar os desempregados na solução dos problemas do país.

Esta ideia poderá talvez parecer radical, mas do ponto de vista de um desempregado, radical é não ter como subsistir, é não conseguir cumprir com as suas obrigações familiares, é não conseguir pagar a habitação, é não conseguir alimentar os sues filhos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Vamos imaginar que sim

Sim. Imaginemos que de facto atingimos o Pico Petrolífero está ultrapassado ou em vias disso. Vamos supor que as elites deste mundo têm plena consciência disso. Como reagiriam? Será que adoptavam políticas que implicassem que eles próprios perderiam grande parte da sua riqueza? Ou antes, será que adoptavam políticas que implicassem que eles próprios perderiam da enorme vantagem concorrencial em relação aos restantes cidadãos? Sabemos que a resposta a ambas as perguntas é não. E isso vê-se em Portugal, em que os governos quando têm que fazer a sociedade pagar os desvarios das elites, em vez de cortar na gordura, ou seja, em vez de ir buscar a riqueza onde ela está, com excepção de um curto período do pós 25 de Abril, cortam sempre nos mais débeis. Isto não tem necessariamente que ser assim. Não é uma Lei da Natureza. É uma lei dos homens que enquanto povo, temos deixado que nos dirijam.
Mas adiante. Imaginemos então que sim, que o petróleo estava a acabar. Imaginemos que as elites não queriam perder o seu status, o seu nível de vida comparado em relação aos seus semelhantes, que não queriam perder os gadgets que a tecnologia vai mandando cá para fora. Como sabiam que isto não ia chegar para todos, tinham que começar a fazer qualquer coisa. Façamos um esforço e vamos imaginar que somos eles...
Problema: o petróleo está a acabar.
Que dispomos? Um planeta, com os seus recursos (que está fora de questão que deixem de ser nossos) e um monte de escravos ao nosso dispor, temos o controlo da economia.
Qual o objectivo? Temos que fazer com que os escravos sejam comprimidos, temos que fazer com que consumam menos.
Fazemos uma guerra em larga escala? Isso possibilitaria matar tantos escravos quantos entendêssemos mas têm um inconveniente: desata uma escalada tecnológica e isso ainda consome mais recursos, Além disso, ainda podemos resultar mortos. Portanto, uma guerra em larga escala está posta de parte.
Sabemos que a rica experiência adquirida no Chile de Pinochet e várias vezes replicada na América Latina e em vários países do sudoeste asiático pode tornar difícil o controlo dos escravos (recordemos o que se está a passar na América Latina na actualidade, em que depois de décadas, os escravos se tem vindo a revelar menos controláveis).
Verificámos com a Rússia de Yeltsin, e com a África do Sul pós-apartheid que é possível obter os mesmos resultados sem que isso implique na aplicação da exagerada violência e dessa forma conseguir manter os escravos relativamente calmos.
Na Inglaterra de Thatcher e nos EUA de Reagan, aprendemos que mesmo em países mais desenvolvidos, é possível comprimir a larga maioria da população, sem que isso implique a perda do controlo.
Posto isto, a solução parece evidente.
Recordemos então o procedimento.
1ªfase: reduzir os salários e simultâneamente fornecer crédito fácil e barato, incentivando as pessoas a gastar, a manter o seu nível de vida
2ªfase (pode decorrer em simultâneo com a anterior): reduzir os impostos à parte de cima da sociedade e dar crédito fácil e barato a todos os níveis dos estados de forma que os que são eleitos por via eleitoral consigam apresentar trabalho sem que para isso tenham que cobrar no imediato aos eleitores.
3ªfase: depois de as duas fazes anteriores terem elevado os níveis de endividamento dos estados e dos escravos, cortar o acesso ao crédito e exigir o respectivo pagamento, acompanhando com uma campanha moralista  e de culpabilização dos excessos cometidos pelos pelos escravos
4ªfase: dar ainda mais crédito aos estados, mas obrigando a reduções drásticas na protecção social, nos salários, nos direitos laborais, obrigando gradualmente a privatizar cada vez mais partes dos estados, e intensificar a campanha moralista em que por um lado se mostra como inevitável o aumento da pobreza generalizada, e por outro se apresenta como lamentável que pessoas comecem a morrer por falta de meios de subsistência tendo sempre o cuidado de apresentar medidas caritativas minimizando assim a revolta.

Seguindo com a divagação, a Grécia seria somente o laboratório onde se ensaiavam os procedimentos que seguidamente seriam aplicados por todo o mundo. E assim sendo, nós ficaríamos calmamente a assistir?

Excerto de entrevista a José Afonso 1984 (via M12M)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dois países europeus

Um do sul...
... outro do centro imperial.

Num deles, o presidente compra acções de um banco abaixo do preço de mercado e passado algum tempo consegue vende-las acima do preço de mercado, banco este cujo principal responsável se encontra na cadeia e casualmente foi ministro do presidente, banco este que devido à gestão danosa recebe um salvamento de cerca de 5% do PIB...
... no outro, o presidente vai passar férias numa ilha do Mar do Norte pagas por um empresário que resulta numa aprovação de um empréstimo em condições duvidosas.

Num deles, o presidente dedica-se a convencer os seus eleitores a pagarem as dívidas contraídas pelos seus governantes em vez de exigir responsabilidade a esses mesmos governantes por não terem cobrado impostos a tempo à classe que tem progressivamente vindo a pagar menos impostos com a desculpa de que assim criariam mais empregos, e que o tempo veio confirmar que em vez de se criar empregos, acabou por se destruir postos de trabalho...
... no outro, o presidente demite-se.

Um deles é Portugal...
... o outro é a Alemanha.

A diferença é que as pessoas que estão a ler (e a escrever) este texto aceitam passivamente e sem nada fazer para mudar a situação e acham normal ter como presidente um cobarde que foge a uma manifestação de estudantes e se recusa a comentar o facto.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Crónica de uma ida ao Centro de Emprego


Hoje estive no Centro de Emprego da minha zona de residência. Tinha sido notificado, e se não aparecesse na hora marcada, perderia o Subsídio de Desemprego que tanto me custou pagar durante os anos em que trabalhei. Tratou-se de uma palestra em que a diligente funcionária recordou que para continuar a receber o Subsídio de Desemprego, para continuar a receber o Subsídio de Reinserção ou no caso de não receber nenhum destes, o cidadão para continuar a contar para a estatística dos desempregados teria que aparecer sempre que para isso fosse notificado.

Para um crente no sacrossanto Mercado, esta lógica de mark to market faz todo o sentido, pois quem gere o sistema pretende demonstrar sem sombra de dúvidas que está a fazer um bom trabalho e para isso define a métrica que mais lhe convém, independentemente da realidade. Como aqueles que gerem o sistema são pessoas acima de qualquer suspeita e não uns sociopatas, como muitos dizem, e assim querem de facto melhorar a vida dos seus concidadãos, assumirão que o sacrossanto Mercado tem obviamente a capacidade de ver para além das inconsistências entre a realidade e os números publicitados e por isso providenciará os meios necessários à população e terão certamente razão pois afinal essas pessoas que ficam de fora das estatísticas ainda não morreram. Bem aventurado seja o sacrossanto Mercado.

Seguidamente, a diligente funcionária do Centro de Emprego informou que felizmente o sistema agora era muito mais ágil e por isso, todas as ofertas de trabalho que apareciam eram imediatamente preenchidas, de tal forma que se abria uma oferta em duas horas esta fechava porque apareciam logo dez candidaturas. Santificado seja o Mercado!

A palestra demorou uns 10 majestosos minutos. Nem podia ser de outra forma, aleluia sacrossanto Mercado!

Já estava na rua quando me apercebi que não tinha como comprovar a minha presença no Centro de Emprego, e por isso, se alguém se enganasse no processamento da informação no Centro de Emprego, poderia perdê-lo. Voltei e pedi um comprovativo da minha presença. Para conseguir o documento tive que falar com seis pessoas, que me perguntaram para que queria eu o documento ao que eu sempre expliquei que não tinha forma de comprovar que tinha correspondido à notificação. Responderam que isso ia ser registado no sistema e que não tinha que me preocupar com isso. Insisti e explicando que não estava a duvidar do trabalho daqueles com quem estava a falar mas que entendessem que tinha filhos e responsabilidades. Lá me deram o documento.

O que me parece insólito é que mais ninguém (eram umas vinte pessoas) tenha pedido o comprovativo e pela reacção dos funcionários, não estariam habituados a semelhante pedido. Parece ser que tanto os funcionários do Centro de Emprego como os cidadãos que a ele se acercam vivem em paz e inocentes daquilo que é a missão de um sacerdote do sacrossanto Mercado, que é reduzir ao máximo as prestações sociais para que assim sejam libertadas todas as forças sagradas que salvarão o País e quem nele ainda viva.

Penso que mais rapidamente se resolveria a maleza que nos possuiu se simplesmente se fechasse os Centros de Emprego e que as estatísticas fossem fornecidas directamente pelas empresas que necessitassem de fiéis. Dessa forma, o mundo seria perfeito, pois não haveriam desempregados, simplesmente a oferta possível, que seria rapidamente satisfeita, como bem sabemos todos, pois afinal, quem necessita de trabalhar, tem sempre a preocupação de procurar e por isso sairia muito mais barato aos contribuintes que ainda conseguem pagar o desnecessário estado. Trata-se simplesmente de deixar o sacrossanto Mercado actuar. Bem aventurado Seja o Mercado!

Para um convertido como eu, fico sempre apreensivo quando oiço algum ímpio dizer, referindo-se aos sacerdotes da santa igreja do Mercado: "Pode ser que um dia se fodam!"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Breve crítica a "O Caminho da Servidão", de Hayek

Todo o livro assenta numa ideia: que sem liberdade económica as restantes liberdades (política e social) não existirão. E a partir desta ideia é desenvolvido todo um sistema que em aparência é consistente.

Acontece que, como sabemos, pode haver liberdade económica (no sentido em que quem tem dinheiro pode comprar o que quiser), mas isso não implica que as liberdades políticas e sociais serão um dado adquirido. Vejamos... Por um lado, casos há em que a liberdade económica (de uma minoria) é conseguida à custa das restantes (Chile ou China) e por outro, como é o caso da nossa actualidade, as liberdades existem só para uma minoria que as pode comprar, ficando a larga maioria da população excluída dessa possibilidade logo à nascença.

Só pode defender o texto quem já nasça bafejado pela riqueza. Os restantes, por ignorância e principalmente por ideologia, que é bombardeada diariamente, aceitam passivamente o discurso de quem é beneficiado na esperança de um dia ter sorte e conseguir lá chegar, pois é dito que para ingressar a esse grupo selecto basta trabalhar arduamente e ser o mais competitivo. Não é dito que quem parte com vantagem, numa situação em que é colocado em competição, terá sempre maior probabilidade de ganhar. E estatisticamente é o que acontece.

Trata-se pois de uma monumental falácia.

Mais de 300 mil pessoas numa manifestação imensa

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

No Carnaval... ninguém leva a mal...


Cumprindo com as ordens do Coelhinho da Páscoa, nesta 3ªfeira, os portugueses terão a oportunidade mascarar-se e ir trabalhar. Afinal, é Carnaval e ninguém leva a mal.

Animal desprovido de corda dorsal



Para quem não se lembre das aulas de biologia, é deixada aqui parte da chave dicotómica (original aqui).
Apanhado aqui via M12M.