quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Relação entre pessoas individuais e povos individuais

Quando estava na antiga União Soviética a estudar morava numa residência de estudantes onde havia gente de todo o Mundo: europeus dos dois lados do muro, tanto do norte da Europa como do sul, Norte-Americanos e Canadenses, Japoneses, coreanos dos dois lados, Vietnamitas, latinamericanos de todos os países sem excepção, africanos de todos os países desse continente, árabes desde a Mauritânia até indonésia, asiáticos budistas, muçulmanos, judeus, ateus, brancos, pretos, amarelos, vermelhos... havia de tudo. Curiosamente, quando se perguntava a alguém de onde era no seu país, enquanto os que viviam em sociedades com alguma segurança social afirmavam que eram de determinada cidade do seu país, aqueles que viviam em sociedades com muitas desigualdades sociais ou em guerra, diziam que eram de determinada parte da cidade onde vivam que assumiam que todos sabiam que era a zona rica, ou de determinada região do seu país que assumiam que todos sabiam que era a zona rica do seu país. Penso que era uma forma de afastar de si a miséria e a pobreza com que tinham que conviver no dia-a-dia quando se encontravam no seu país.

Curiosamente, está-se a verificar a mesma lógica entre os países da União Europeia: a Islândia entrou em bancarrota, e os restantes países europeus apressaram-se a dizer que não eram a Islândia; a Grécia caiu, está próxima da bancarrota; a Irlanda e Portugal apressam-se a dizer que não são a Grécia; a Espanha e a Itália apressam-se a dizer que não são nem Portugal, nem a a Irlanda nem a Grécia; a França e a Bélgica apressam-se a dizer que não são nem a Grécia, nem a Irlanda, nem Portugal, nem a Espanha, nem a Itália; a Alemanha e a Finlândia apressam-se a dizer que não são aqueles que já caíram; os EUA apressam-se a dizer que não são nem a Grécia nem Portugal.

Outro exemplo... a Tunísia entrou em convulsão e os restantes países árabes apressaram-se a dizer que não eram a Tunísia; o Egipto entrou em convulsão e os restantes países apressaram-se a dizer que não eram nem a Tunísia nem o Egipto; a Líbia entrou em guerra e a mesma coisa.

Antes disto, quando o Iraque foi invadido, também os seus vizinhos se apressaram a dizer que não são o Iraque.

Há umas décadas, Portugal e Espanha diziam que não eram África nem a América Latina.

E mais exemplos haverão.

Porque será que quando há dificuldades, a maioria das pessoas em vez de se unir para resolver o problema, escolhe dizer que não faz parte do problema quando o tempo está contra eles se esperar o suficiente também poderá ser engolido?

Porque será que as lideranças dos países se comportam da mesma maneira?

Chico Buarque - Tanto Mar

domingo, 11 de setembro de 2011

Tão diferentes... tão iguais.

Há alguém aqui que há tempos pôs o dedo na ferida: Eles não querem. E é isso mesmo. Os partidos da esquerda não querem. Isso voltou a ficar claro com Jerónimo na semana passada na Festa do Avante. Isso ficou claro este fim de semana no congresso do PS. Não há política de alianças. O PCP será governo quando o Povo quiser. Ao contrário, o PS até tem a expectativa de que o poder lhe caia no regaço. E vai ficar pacientemente à espera. O PCP também. Ao PS nem lhe convém outra coisa. Nem ao PCP. Vão ser quatro anos de muitas dificuldades e o melhor que pode acontecer é que não seja o PS a sofrer o desgaste. Se virmos bem, ambos (PS e PCP) pensam da mesma forma, com a diferença que um vai tendo mais votos que o outro.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O PALOP

Era jovem, perspicaz, suave, doce, muito culto que quando o viam não davam nada por ele, tal era a sua aparente ingenuidade. Tinha conseguido uma bolsa para estudar numa das nossas universidades estatais, na mesma que estudavam meninos de muito boas famílias, e outros jovens que tinham que trabalhar em callcenters para pagar o seu estudo. Falava fluentemente várias línguas o que fazia que no callcenter quando recebiam uma chamada de algum estrangeiro, fosse ele a ficar com o encargo. Claro que não ganhava mais por isso. O sua capacidade era uma mais valia para a empresa, não para ele. Era tal a dificuldade em que vivia que para minimizar a fome, pedia emprestado. No fim do semestre, os meninos de bem que estavam a acabar e necessitavam de fazer a sua tese de fim de curso, como eram uns incapazes, pagavam-lhe 1000 euros por tese. Num mês fazia cerca de 4 testes. Todas laureadas. Dessa forma, conseguia pagar as suas dívidas, mas não conseguia obter notas para transitar para o terceiro ano. Simplesmente não tinha tempo. Afinal, o trabalho no callcenter e as 4 teses por mês não lhe deixavam tempo nem para dormir e nem pensar ir às aulas. No fim, os meninos bem iam trabalhar para o escritório do papá. O nosso jovem... encontrei-o no autocarro a chorar com as malas porque voltava para casa. Tinha chumbado. Que iria dizer à sua família que tanto esperavam dele?

E inesperadamente...

A "necessária" selecção de doentes de segunda que terão que morrer para que o SNS caiba no orçamento minimalizado enquanto uma minoria terá acesso a uma alternativa privada à disposição daqueles que a podem pagar, ocorre recordar Orwell quando diz que "todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros", o que faz esta nossa revolução em curso perigosamente recordar um regime ditatorial comunista.

Desculpem ser malicioso, mas não resisto...

Trata-se do PS no seu melhor: aliam-se em função de amizades pessoais e não de ideias. Sabem? É que me custa a aceitar que se trate de um partido burguês e não de um partido de esquerda. Por ter dificuldade em aceitar essa realidade é que me revolto quando se defende as posições do PS. Se aceitasse que se tratava de um partido burguês não teria nenhuma dificuldade em entender posições em defesa do PS. Peço-vos que tenham paciência comigo, sim?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Até que enfim

http://www.presidencia.pt/?idc=37&idi=56623

Começo a entender este nosso presidente. Primeiro tínhamos que entender os mercados. Depois muda de opinião sobre a Moodys. Agora pretende ir contra os mercados. Certamente no produto mais importante deste país. Escolhe aquele que mais riqueza nos deixa: os jogadores de futebol. Entendo porque nestas coisas temos que ser modernos e holísticos. A realidade é a que é e actualmente um bom jogador de futebol vale mais do que dois bancos. E por isso devemos ser racionais e apostar proteger fortemente este nosso inovador produto de exportação e, quem sabe, levantar barreiras alfandegárias à entrada da concorrência. Afinal temos o melhor treinador do mundo, os melhores jogadores do mundo, o maior clube do mundo, de tal forma que é através do inovador apoio a este nicho que o nosso país vai pagar dívidas, equilibrar a balança de pagamentos e formar empresários dinâmicos para sair alcançar e mesmo ultrapassar os nossos países competidores.

Bem haja, Senhor Presidente!

Curioso...

A direita defende o mercado livre mas politicamente pratica a coordenação entre os actores de tal forma que o entendimento é sempre possível;
a esquerda defende o mercado fortemente regulado mas politicamente pratica a concorrência entre as forças que a decompõem.
Sendo assim, tanto a direita como a esquerda afirmando uma coisa praticam o seu contrário, com uma pequena diferença: naquilo que é importante, a direita consegue fazer passar a sua ideologia à esquerda no que toca a poder e determinar desta forma a direcção da sociedade enquanto a esquerda engole inteiro a ideologia de direita sem perceber que o resto decorre disso mesmo.

Zizek